Brunno Elias

Atividade física, bem-estar e um pouco mais (ou não…)

Comportamento do cortisol e testosterona no treinamento de força

Posted by Brunno em 6 de Dezembro de 2009

*Texto apresentado como avaliação na especialização em Wellnes: Saúde & Bem Estar.

O treinamento de força tem implicações importantes nos músculos, tecidos conjuntivos (ligamentos e tendões) e ossos, estruturas que normalmente são alvos dos objetivos dos treinos. Concomitante aos efeitos sobre esses sistemas, o treinamento de força também resulta em manifestações no sistema endócrino (FLECK; KRAEMER, 2006), entre outros. Dentre essas alterações, se destacam as mudanças referentes aos hormônios cortisol e testosterona, relacionados ao estresse de forma geral e processos anabólicos (POWERS; HOWLEY, 2000), respectivamente.

O cortisol atua na manutenção da glicemia por meio de processos catabólicos (gliconeogênese e liberação periférica de substratos), respondendo ao estresse de forma geral (FLECK; KRAEMER, 2006), com liberação pelas glândulas adrenais. Powers e Howley (2000) citam como estímulos os danos teciduais (fraturas e queimaduras) e o exercício físico. Dessa forma, o treinamento de força também influi na concentração desse hormônio. Intervalos curtos entre as séries (por volta de 1 minuto) provocam aumento no nível do cortisol mais significante que intervalos mais longos, como 3 minutos (FLECK; KRAEMER, 2006). Apesar desse comportamento da concentração hormonal, não é possível concluir que um tipo de treinamento de força afeta de forma determinante a concentração do cortisol (FLECK; KRAEMER, 2006). O treinamento crônico parece diminuir a sensibilidade a concentração do cortisol, enquanto os efeitos agudos se relacionam ao nível do estresse metabólico.

Abordando essa discussão, Uchida et al. (2004) encontraram diminuição na concentração de cortisol em repouso, após treinamento crônico em mulheres, e incremento no nível hormonal em situação pós-treino. Já em outro estudo desses mesmos autores (UCHIDA et al, 2006), agora com homens, houve aumento do cortisol de forma aguda e crônica. As respostas da liberação do cortisol ao trabalho de força parece respeitar a intensidade (volume e carga) de exercício, de acordo com a demanda por substratos energéticos, mais que algum modelo de treino.

Já sobre a testosterona Fleck e Kraemer (2006) acreditam que deve ser estudada por meio de sua porção livre, que é a que afeta os tecidos-alvos, apesar da ação significante do hormônio ligado sobre os músculos. A testosterona é relacionada as características sexuais masculinas, sendo liberada pelas glândulas sexuais. De forma aguda, a concentração de testosterona livre permanece inalterada ou diminui após uma sessão de treinamento de força. De forma crônica, em homens adultos, o treinamento de força provoca aumento da concentração de testosterona durante o repouso. Esse comportamento hormonal se relaciona a hipertrofia da musculatura esquelética.

Fleck e Kraemer (2006) apontam que a utilização da razão testosterona:cortisol (T:C) tem sido usada para medir a situação anabólica do organismo. Se existe diminuição da razão T:C, apresenta-se um indicador de estímulo muito estressante, com elevação no nível do cortisol. Lembrando da característica catabólica do cortisol, essa relação pode ser danosa para praticantes que objetivam a hipertrofia muscular. Uchida et al. (2006) demonstraram que o treino de força pelo método tri-set é mais estressante que o método de múltiplas séries por meio do controle da razão T:C.

REFERÊNCIAS
FLECK, Steven J.; KRAEMER, Willian J. Fundamentos do treinamento de força muscular. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

POWERS, Scott K.; HOWLEY, Edward T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. Manole: São Paulo, 2000.

UCHIDA, Marco Carlos et al. Alteração da relação testosterona:cortisol induzida pelo treinamento de força em mulheres. Rev Bras Med Esporte, Niterói, v. 10, n. 3, mai/jun/2004.

UCHIDA, Marco Carlos et al. Efeito de diferentes protocolos de treinamento de força sobre parâmetros morfofuncionais, hormonais e imunológicos. Rev Bras Med Esporte, Niterói, v. 12, n. 1, fev/2006.

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